O corpo e o discurso de professoras negras expandem fronteiras do conhecimento e coloca no centro da sala um mal-estar mais do que necessário às mudanças que desejamos para uma educação inclusiva, gratuita, pública e de qualidade. O debate por uma nova educação, em um país de maioria negra e formado por mulheres, passa pela escuta ativa dessas professoras, pela aceitação da liderança desses novos sujeitos que trazem consigo novas epistemologias do saber, novas “bibliotecas”, onde se somam à tradição da literatura escrita a oralidade, os saberes dos povos indígenas e dos terreiros de candomblés, a observação daquelas que carregam seus ancestrais consigo e transitam pelas ruas.

Nenhum desses enfrentamentos é romantizado no presente livro; a leitora encontrará aqui o retrato do abandono do estado, do adoecimento do corpo docente, a violência enfrentada pelos alunos e alunas e que atravessa os muros da escola. Por outro lado, são essas professoras negras, ocupando funções de docência, orientação escolar, direção, que vão trazer para a roda novos sentidos para a palavra “aprendizado”, secularmente negado a elas. Se a raiz etimológica latina de “professor” significa “aquele que declara publicamente”, os artigos e testemunhos aqui reunidos professam um novo cenário combativo, no qual a mulher negra e indígena não se contenta com posições subalternizadas dentro do espaço escolar, posições silenciadas. Ao “professar” sua verdade, aquela que não pode ser escondida pelo seu corpo, sua voz e seu saber, essas mulheres viram o espelho para nós, brancos, que exilamos as heranças indígenas e da diáspora africana dos bancos da formação educacional.

Giovanna Dealtry

Professora/UERJ

Org. Gisele Rose