Diante do sistema de reprodução sócio-metabólica do capital, cujo valor absoluto são os processos de expropriação e valorização do valor em detrimento da vida e do trabalho digno, os anseios por acumulação e reprodução de mais capital produzem desmesuras incompatíveis aos limites dos seres humanos. Assim, a letalidade de um sistema insaciável requer um sem limites do uso da força de trabalho que, de forma cada vez mais intensificada, exige dos sujeitos uma espécie de “a mais de si”, um superlativo de suas capacidades, um tipo de substancialização para tentar dar conta das exigências de um sistema que, no limite, é incompatível com as possibilidades humanas. Nesse sentido, o fenômeno do consumo de substâncias psicoativas representa um importante marcador analítico através do qual é possível analisar tentativas, por parte da classe trabalhadora, de se (psico)ativar, se aprimorar, se maximizar na intenção de estar, de um modo ou de outro, a altura das exigências paradoxais próprias aos modos de vida e trabalho capitalistas, assim como se anestesiar dos seus efeitos nocivos. Afirma-se, portanto, que o sistema de produção capitalista comporta e demanda uma economia psicoativa que lhe parece fundamental para a continuidade de seu exercício e atualização de suas estruturas. A mobilização de diversas substâncias na arena laboral pode ser tomada, nessa perspectiva crítica, como uma condição de suportar o insuportável, como uma das alternativas para tolerar o intolerável que a produção capitalista impõe à vida humana, particularmente nos contextos de trabalho. Diante das desmesuras impostas pelo capital às capacidades humanas, o consumo de substâncias psicoativas no trabalho revela-se como uma necessidade quase imanente à reprodução do capital, a partir da qual sujeitos - agentes de sua própria expropriação - tornam-se capazes de produzir e reproduzir a forma social deste sistema.
Sergio Guimarães
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ISBN: 9788594750600 Páginas: 336 Tamanho: 16X23 Idioma: Português Ano de Edição: 2025
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Economia Psicoativa do Trabalho