Há muito tempo, já, os estudos de gênero, as teorias queer e sua militância parecem radicalmente implicados na produção e legitimação de novas formas de existência, condição necessária – embora talvez não suficiente – para a transformação da sociedade, ou seja, para a construção de novos modos de viver juntos.

Assim, os embates em torno de gênero e sexualidade foram, nos últimos anos, gradativamente se associando ao que podemos definir como uma imaginação utópica, marcada pela produção de novos regimes de conhecimento e de saber, articulados à formação de novas sensibilidades, e pelo desejo radical de subversão das hierarquias instituídas e de derrubada das fronteiras identitárias. Implicada, sobretudo, na redefinição dos limites do humano.

Como em qualquer utopia, os sonhos periféricos manifestos neste livro precisam reinventar o mundo e, para isso, é preciso transformar o modo como o vemos. Imaginar um novo regime estético, outra epistemologia ou, mais simplesmente, outros modos de saber. Inventar novas palavras, novos nomes, novas línguas, novos alfabetos. Subverter o inteligível, promover o incômodo.

Rafael Leopoldo e Sara Wagner York